Autor de estudo citado pelo governo nega ter liberado consumo de pescados no Nordeste

Cientistas condenam nota do Ministério da Agricultura, sem base para liberar consumo

Por Diário do Poder
12 de noviembre de 2019 4:39 PM Actualizado: 12 de noviembre de 2019 4:39 PM

A liberação do consumo de pescados de áreas atingidas por óleo no Nordeste, anunciada ontem (11) pelo Ministério da Agricultura teve como base um estudo da PUC-Rio que, ao contrário do discurso do governo, não concluiu que as espécies da região do desastre estão “próprias para o consumo”. Quem contesta o anúncio oficial, fazendo coro com cientistas nordestinos, é o professor Renato Carreira, coordenador do Laboratório de Estudos Marinhos Ambientais (LabMAM), que participou da pesquisa.

Carreira garante que os dados coletados das amostras de sete peixes e cinco lagostas da Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte não podem ser interpretados como base para uma liberação da pesca ou um atestado de que não há animais contaminados.

“Nunca, em momento algum nosso laudo serve para dizer que a pesca está liberada. […] A gente fez um retrato, um primeiro esboço de divulgar níveis de contaminantes. Fizemos isso sem cobrar, como um esforço para divulgar a qualidade do pescado”, declarou o pesquisador à reportagem do UOL. “Isso é uma primeira informação dentro de uma escuridão total”, concluiu.

Além de Renato Carreira, outros nove pesquisadores atuaram no estudo, buscando identificar os níveis de contaminação por hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), presente no petróleo e nocivo à saúde. E o coordenador do estudo deixou claro que a forma como o resultado da pesquisa foi divulgada pelo governo pode levar a interpretação que ele não considera mais correta.

O convênio da pesquisa junto à universidade previa que o ministério teria exclusividade na divulgação dos resultados da conclusão do laboratório. E o resultado divulgado na nota do ministério teve como base apenas 12 do total de amostras analisadas, já que outras nove ainda têm previsão concluir os estudos amanhã.

A pesquisa não contempla a pesca artesanal e recreativa que alimenta boa parte dos nativos e turistas da região litorânea atingida por óleo, ja que os peixes das amostras foram coletados em estabelecimentos registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF), da pesca industrial.

Enquanto a análise do laboratório da PUC-Rio foi feita em peixes e lagostas embalados para consumo, a Universidade Federal da Bahia (UFBA), que questiona liberação de consumo de peixes feita pelo governo federal, realizou uma pesquisa com 50 animais marinhos, na última semana de outubro e detectou metais pesados em todos eles.

‘Faltou transparência’

O diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Francisco Kelmo, afirmou para a reportagem do Correio que as informações divulgadas pelo governo federal precisam ser mais transparentes, indo além da nota divulgada. “Estamos falando da saúde das pessoas. Não sabemos as consequências que isso pode ter. O governo precisa ser mais transparente”, disse o cientista da UFBA.

Francisco Kelmo dá como exemplo da falta de transparência o fato de a nota do ministério não dizer em que parte do corpo do animal fizeram avaliação, se foi nos músculos ou se foi na bile, por exemplo. Também não dizem quantos peixes foram avaliados, ou como foi a coleta. Nem revelam as concentrações que eles encontraram para dizer que os valores foram baixos, nem o método utilizado.

“A informação é muito vazia e não traz segurança. Não há dados suficientes para concordar ou refutar”, afirmou o pesquisador, ao Correio.

Sem amparo estatístico

Após ter acesso ao resultado das análises citadas na nota do governo federal, o pesquisador Emerson Soares, que coordena a força-tarefa de pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) sobre o desastre com óleo, considerou prematura e sem base a nota que atestava como seguro para saúde o consumo de pescados.

Soares alerta que, com a dimensão do desastre, o sistema é dinâmico e as amostras devem ser feitas e refeitas com certa continuidade, porque uma amostra só não vale por muito tempo. E ainda observou que a quantidades de amostras, localização e espécies analisadas devem ser sempre levadas em conta, por que cada uma reage ou incorpora de alguma forma diferenciada, a exemplo das filtradoras, onívoras ou carnívoras.

“Não tem nenhum amparo estatístico de amostragem. Não é significativo. Não reflete nada. Incrível como um ministério faz uma coisa dessa”, condenou o pesquisador da Ufal, em entrevista ao Diário do Poder.

A força-tarefa da Ufal para o desastre com óleo fará análises de água, sedimento e pescado nesta e na próxima. E deve divulgar em 12 dias os resultados, detalhadamente.

Renato Carreira, da PUC-Rio, ainda cita outro aspecto, ao considerar compreensível a preocupação com a qualidade do pescado para consumo, porque há pescadores em situação econômica crítica e impacto sobre o turismo. Ele destaca que pouco se fala sobre o impacto de longo prazo da presença do óleo na região. “Animais e vegetais expostos a concentrações pequenas, mas por longo período, podem levar a bioacumulação de compostos em animais como golfinhos e tartarugas”, alertou. (Com informações do UOL e Correio)

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