A esquerda ‘anti-fascista’ tem muito em comum com os fascistas originais

Ela não é oponente do fascismo, mas sim uma genuína representante

Por Antony Mueller, Instituto Mises Brasil
29 de diciembre de 2019 3:13 PM Actualizado: 29 de diciembre de 2019 3:13 PM

As ideias anti-capitalistas são hoje propagadas de maneira mais colérica por integrantes de movimentos ditos progressistas e «anti-fascistas«.

Mas eis a grande ironia: embora estes auto-proclamados anti-capitalistas (e declarados «inimigos da direita») se rotulem de «anti-fascistas», a realidade é que, mais do que qualquer outra ideologia, o fascismo é exatamente o que caracteriza suas ideias.

Mas, afinal, o que é o fascismo e qual o conteúdo desta ideologia?

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O «Manifesto Fascista»

O Manifesto Fascista foi proclamado em 1919 por Alceste De Ambris e Filippo Tommaso Marinetti.

Em seu panfleto, os autores defendiam a implantação de um salário mínimo estipulado pelo governo e de uma jornada de trabalho de apenas oito horas diárias (um valor pequeno à época). Defendiam também que os trabalhadores tivessem representantes no alto escalão administrativo das indústrias e que os sindicatos tivessem o mesmo poder decisório que os executivos do setor industrial e os funcionários públicos.

Os autores do Manifesto Fascista também exigiam um imposto de renda progressivo (alíquotas mais altas para quem ganhasse mais), seguro-invalidez bancado pelo estado, e outros tipos de benefícios sociais, além da redução da idade de aposentadoria.

Mais: o Manifesto exigia o confisco da propriedade de todas as instituições religiosas, bem como a estatização da indústria de armas.

E não parava por aí: os autores do Manifesto Fascista também defendiam a criação de um sistema corporativista de «Conselhos Nacionais» (semelhantes aos sovietes), os quais seriam formados por especialistas eleitos por suas respectivas organizações profissionais, os quais teriam poderes legislativos em suas respectivas áreas.

Finalmente, De Ambris e Marinetti exigiam um pesado imposto progressivo sobre os lucros e os ganhos de capital com o intuito de expropriar uma fatia de toda a riqueza dos capitalistas.

Em 1922, o socialista Benito Mussolini ascendeu ao poder na Itália sob o estandarte do fascismo, e prontamente colocou em prática grande parte deste programa fascista que havia sido proclamado no Manifesto alguns anos antes.

Comparado ao Manifesto Comunista

Uma comparação com o Manifesto do Partido Comunista, escrito por Marx e Engels, e publicado em 1848, revela a relação siamesa entre fascismo e comunismo.

O Manifesto Comunista de 170 anos atrás apresentava 10 medidas necessárias para que um país se tornasse socialista. Dentre elas:

• Imposto de renda fortemente progressivo.

• Centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio de um banco nacional com capital do Estado usufruindo monopólio exclusivo.

• Centralização, nas mãos do Estado, de todos os meios de comunicação e transporte.

• Unificação do trabalho agrícola e industrial com o objetivo de eliminar gradualmente o contraste cidade e campo.

• Educação gratuita para todas as crianças nas escolas públicas, eliminação do trabalho infantil nas fábricas em sua forma atual, e unificação da educação com a produção industrial.

Todos estes itens foram implantados pelos fascistas.

Ainda de acordo com o Decálogo Comunista, os itens que faltavam para que o socialismo pleno fosse alcançado sob o fascismo eram:

•Expropriação da propriedade sobre a terra e aplicação de toda a renda obtida com a terra nas despesas do Estado. (Item 1)

• Confisco da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes. (Item 4)

• Trabalho obrigatório para todos. Criação de exércitos industriais, em especial para a agricultura. (Item 8)

Mas melhora. Tanto os comunistas quanto os fascistas serviram de inspiração aos nazistas, que copiaram suas ideias no programa oficial do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, lançado em 1920.

As exigências do Partido Nazista

O próprio Adolf Hitler em pessoa estava presente quando os 25 pontos do programa do Partido Nazista foram anunciados no dia 24 de fevereiro de 1920. O termo nazismo já dizia tudo: era a abreviação de NSDAP, que significa Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães).

Em 1925, a Assembleia Geral do NSDAP declarou que o programa lançado em 1920 era «imutável». E, em 1941, Adolf Hitler determinou que todos os futuros líderes do Reich deveriam jurar obediência aos 25 pontos.

O Programa do Partido Nazista incluía demandas como:

• Socialização de empresas monopolistas

• Municipalização de grandes lojas de departamento

• Expropriação de terras para propósitos caritativos

• Proibição da especulação imobiliária

• Expansão de todo o sistema educacional estatal

• Um abrangente sistema de escolas públicas gratuitas, com generosos estipêndios e bolsas estudantis

• Defesa do meio ambiente em conjunto com a promoção da saúde e do preparo físico da população

Em particular, o programa do Partido Nazista exigia:

• abolição do «rentismo», isto é, a renda fácil não-oriunda do trabalho (item 11)

• confisco dos lucros oriundos de atividades de guerra (item 12)

• estatização de todas as empresas monopolistas (item 13)

• distribuição dos lucros das grandes empresas (item 14)

• generosa expansão de pensões e aposentadorias (item 15)

• criação de uma classe média saudável (item 16)

• reforma agrária adaptada às necessidades nacionais; criação de uma lei para a livre expropriação de terras para propósitos caritativos. Abolição do consumo da terra e proibição de toda e qualquer especulação imobiliária (item 17)

No item 20, o programa do partido exigia que «o estado deve garantir que todo o nosso sistema educacional nacional seja completamente expandido» por meio de um amplo sistema de subsídios para a educação.

No item 21, o programa estipulava que «o estado tem o dever de ajudar a elevar o padrão da saúde nacional fornecendo centros de maternidade, proibindo o trabalho adolescente, aumentando a capacitação física por meio da introdução compulsória de jogos, olimpíadas e ginásticas, e encorajando ao máximo possível a formação de associações voltadas para a educação física dos jovens».

Os nazistas defendiam a criação de um «Exército Popular» — nada diferente daquilo que, mais tarde, os socialistas implantariam na Ásia e no Leste Europeu.

Não há diferença

Essa seleção de demandas existentes nas plataformas dos socialistas, fascistas e nazistas mostra o alto grau de similaridade entre as linhas de pensamento dessas três ideologias.

Aquilo que os socialistas expressam em seu slogan «de cada qual, segundo suas capacidades; a cada qual, segundo suas necessidades» é igual à máxima nazista de que «o bem comum vem antes do bem privado» («Gemeinnutz vor Eigennutz«) e igual ao lema fascista do «tudo dentro do estado, nada fora do estado, nada contra o estado«.

Não é surpresa nenhuma que governos socialistas, fascistas e nacional-socialistas tenham agido como regimes repressores que não geraram nem prosperidade e nem paz, mas sim miséria, supressão de direitos humanos básicos e guerras.

Os atuais movimentos socialistas, que se definem como progressistas e anti-fascistas, simplesmente utilizam uma falsa terminologia para esconder sua verdadeira agenda. Ao mesmo tempo em que se rotulam «anti-fascistas» e declaram que o fascismo é seu inimigo, esse movimento «anti-fascista» é, essencialmente, fascista. Seus membros não são oponentes do fascismo, mas sim seus genuínos representantes.

Conclusão

No final, comunismo, socialismo, nazismo e fascismo são rótulos que se unem sob o estandarte do anti-capitalismo e do anti-liberalismo. São contra o indivíduo, contra a propriedade privada, e contra a liberdade empreendedorial.

O movimento progressista «anti-fascista» é, em si mesmo, um movimento fascista. O inimigo desse movimento não é o fascismo, mas sim a liberdade, a paz e a prosperidade.

Antony Mueller é doutor pela Universidade de Erlangen-Nuremberg, Alemanha (FAU) e, desde 2008, professor de economia na Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde ele atua também no Centro de Economia Aplicada. Antony Mueller é fundador do The Continental Economics Institute (CEI) e mantém em português os blogs Economia Nova e Sociologia Econômica.
O conteúdo desta matéria é de responsabilidade do autor e não representa necessariamente a opinião do Epoch Times

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