O atual chanceler da Áustria, Sebastian Kurz, continuará no cargo após vencer neste domingo (29) as eleições antecipadas com uma margem que permite a escolha de várias coalizões: repetir o polêmico pacto com os soberanistas, girar radicalmente para os Verdes ou recorrer à desgastada grande coalizão com a social-democracia.
Com 37,2% dos votos e 71 cadeiras, Kurz obteve 5,6 pontos percentuais e nove deputados a mais que dois anos atrás, quando forçou outras eleições antecipadas após assumir com o controle do Partido Popular (ÖVP, de centro-direita) e romper o pacto de governo com o Partido Social-Democrata (SPÖ).
O seu governo, dessa vez com os soberanistas do Partido Liberal (FPÖ), foi curto: 17 meses infestados de escândalos dos parceiros que acabaram em maio com um caso de corrupção, a ruptura da coalizão e uma moção de censura que derrubou a estrutura governamental.
«Fomos destituídos em maio, e o povo voltou a nos escolher agora», declarou neste domingo o líder conservador, de 33 anos, no seu primeiro comentário sobre os resultados.
Kurz disse que está impressionado. Segundo ele, embora todas as pesquisas indicassem a vitória, o resultado foi melhor do que esperava.
A alegria de Kurz é inversamente proporcional à dos soberanistas. Com 16% dos votos, o FPÖ perdeu 21 dos 51 deputados que tinha, uma queda mais aguda que a prevista.
Em praticamente todos os 17 meses de Kurz como chanceler, foram noticiadas polêmicas dos parceiros de coalizão devido a comentários xenofóbicos ou racistas. O vínculo de membros do FPÖ com grupos de direita e neonazistas também prejudicou o governo. Muitos serviços secretos ocidentais limitaram a sua colaboração com a Áustria por falta de confiança.
Kurz tolerou tudo em prol da estabilidade e do «bom trabalho» da coalizão. No entanto, em maio surgiu o vazamento de um vídeo – gravado com uma câmera escondida dois anos antes – que mostrava o então chefe do FPÖ e vice-chanceler, Heinz-Christian Strache, oferecendo favores políticos a uma suposta empresária russa em troca de dinheiro. Strache, que está sendo investigado, renunciou ao cargo, levando a coalizão de governo à ruína.
As eleições deste domingo deram a Kurz todos os ases para formar novo governo. O chanceler voltou a insistir que conversará com todos os partidos, incluindo o FPÖ.
O substituto de Strache no comando do FPÖ, Norbert Hofer, reconheceu que o resultado foi pior que o esperado e que não corresponde à expectativa que tinham de entrar no governo: «Estamos nos preparando para a oposição», analisou.
Em princípio, a matemática parlamentar permite que Kurz repita o experimento com os soberanistas. Mas, com o FPÖ no aguardo da possível prisão de Strache, levando em conta o histórico de escândalos do partido – que está imerso em disputas internas -, Kurz pode decidir buscar outras opções para não voltar a se arriscar com um parceiro problemático.
Uma delas pode ser Os Verdes, um partido progressista no social, mas com uma base de eleitores burguesa que poderia aceitar um pacto com os conservadores.
Impulsionado pela crescente preocupação com a crise climática, o partido ecológico, que estava fora do Parlamento há dois anos, conseguiu 14% dos votos e 25 deputados, o suficiente para uma maioria com o ÖVP.
Para pactuar com eles, Kurz teria que amenizar as duras políticas contra a imigração que copiou do FPÖ e que explicaram, em grande parte, a sua vitória de dois anos atrás. Também precisaria assumir políticas climáticas, como taxas aos combustíveis fósseis, difíceis de serem aceitas pelo eleitor conservador.
Werner Kogler, o líder dos Verdes, se mostrou cético neste domingo sobre um possível acordo com o ÖVP e opinou que Kurz priorizará novamente um acordo com os soberanistas. A terceira opção seria reativar a grande coalizão, a fórmula de governo que dominou a política austríaca desde 1945.
Com 21,8% dos votos e 41 cadeiras, os social-democratas (SPÖ) tiveram os piores resultados da sua história. É muito improvável que as desavenças históricas seja superadas agora, com Kurz mais forte e o SPÖ enfraquecido.
«Há 50% de chances de haver uma coalizão entre ÖVP e FPÖ, ou entre ÖVP e Os Verdes», explicou Armin Thurnher, fundador e analista da revista «Falter».
Thurnher, um conhecido crítico de Kurz, opinou que Kurz se preocupa pouco com a possível repercussão no exterior de firmar outro pacto com um partido xenofóbico e anti-europeísta como o FPÖ.
Segundo Thurnher, Os Verdes tentarão impor mais condições e será importante ver se o FPÖ está disposto a ceder cotas do poder desta vez.
Há dois anos, com bons resultados nas urnas e diante de um Kurz sem muitas opções, os soberanistas assumiram o controle dos ministérios de Interior, Defesa e Relações Exteriores.
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