Por Sara Gómez Armas
Hong Kong, 24 nov – Os cidadãos de Hong Kong foram às urnas neste domingo em número recorde para uma eleição para os conselhos distritais que medirá o peso político do movimento pró-democracia após quase seis meses de protestos nas ruas nessa região administrativa especial da China.
Mais de 2,9 milhões de pessoas votaram, o maior número em um pleito na história de Hong Kong, superando a marca anterior, de 2,2 milhões nas eleições legislativas de 2016, o que mostra uma sociedade cada vez mais politizada.
Desde antes da abertura das urnas, muitos faziam fila para estarem entre os primeiros a votar, algo insólito na cidade de cerca de 7,5 milhões de habitantes, dos quais 4,1 milhões estavam registrados para votar, outro número recorde.
«O povo de Hong Kong ainda tem liberdade de escolha, e nós temos que expressar o que queremos», disse Alex, um engenheiro de 24 anos que participou ativamente das manifestações e estava planejando votar no candidato pró-democracia de seu distrito no bairro de classe média alta de South Horizons.
Embora considere que as eleições são vitais, Alex não acredita que consigam conter os protestos, que segundo ele vão continuar «porque nem o governo (da região), nem o Partido Comunista da Chinês estão ouvindo os manifestantes».
No entanto, tanto no dia das eleições como nos anteriores, um clima de calma reinou na cidade, justamente para impedir que a violência servisse de pretexto para cancelar as eleições, algo que nenhuma das partes queria.
Desde ontem, uma petição coletiva circulou nas redes sociais para convocar uma votação em massa logo de manhã, porque se algum episódio violento provocasse o fechamento das urnas depois das três primeiras horas, a eleição seria validada, e só seriam contabilizados os votos recebidos até aquele momento.
«Tinha medo de que o governo fechasse os centros de votação por causa de qualquer tumulto. Eles sempre podem encontrar alguma razão para justificar suas ações injustas», disse Larry, um pró-democrata de 25 anos que votou cedo no bairro de Kowloon.
Para ele, que participou dos últimos protestos em favor da democracia, essas eleições «são a ocasião para mostrar que os cidadãos de Hong Kong estão cada vez mais envolvidos politicamente».
De fato, em relação a 2015, 1 milhão de novos eleitores se inscreveram, sendo que 392,6 mil se habilitaram no último ano, coincidindo com os protestos, dos quais mais da metade tem de 18 a 20 anos.
«Havia rumores de que grupos pró-China enviassem pessoas para causar distúrbios se houvesse um grande comparecimento de jovens eleitores», disse Ken Hung, um designer de 42 anos que também votou cedo por causa do risco de fechamento antecipado das urnas.
No final, esse medo não se tornou realidade neste dia de eleições, quando Joshua Wong, um dos líderes mais visíveis do movimento democrático e o único candidato vetado, convocou os habitantes de Hong Kong a votarem «para manifestar o descontentamento em relação a Pequim».
«O fato de ele ser o único candidato inabilitado mostra que as eleições estão sendo manipuladas pelo Partido Comunista da China,» disse Wong, que também foi um dos líderes da chamada Revolução dos Guarda-chuvas de 2014, outra série de protestos pró-democracia na região.
Pelo lado pró-China, o candidato Samuel Mok Kam Sum, de 29 anos, fez campanha em ruas do bairro de Mid Levels, a poucos metros de um colégio eleitoral, com a mensagem de que esse pleito representa «a decisão de apoiar a violência ou a paz».
«Temos sofrido caos e agitação em Hong Kong. Peço a todos que usem o voto para levantar a voz e liberar sua raiva, para que nossa sociedade possa recuperar a paz e a normalidade o mais rápido possível», disse Mok, um dos 1.090 candidatos que concorrem a 452 postos de conselheiro nos 18 distritos de Hong Kong.
Diante da situação excepcional vivida na cidade, pela primeira vez na história de Hong Kong a tropa de choque da polícia faz a segurança das urnas, e mais de 30 mil agentes da corporação estão de plantão.
Embora a onda de protestos tenha começado pacificamente em junho, muitos manifestantes estão agora mais radicais e violentos. A crise atingiu seu pior momento em um confronto com a polícia no último fim de semana.
Em quase seis meses de protestos, mais de 4,5 mil manifestantes foram presos, e duas pessoas morreram.
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