Megaprojeto de infraestrutura pode levar Guiana para «armadilha da dívida» com a China

Brasil é o maior parceiro comercial da China na região

Por Julian Bertone
16 de septiembre de 2019 1:53 PM Actualizado: 16 de septiembre de 2019 1:53 PM

Continuando com seu ambicioso plano geopolítico da iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota”, a China pretende construir uma extensa rodovia e um porto na Guiana, mas o projeto de infraestrutura é acompanhado por sérias questões.

Nas palavras da repórter do Kaieteur News, Abena Rockcliffe, “a Guiana sempre fica com o trabalho sujo. Nas obras realizadas até o momento, vimos invasão de projetos e denúncias de corrupção, pouco uso de mão-de-obra local, e não há transferência de habilidades”, afirmou ela, referindo-se a uma longa história dos negócios de seu país com a China, e completou dizendo que «as autoridades desse país não dão informações suficientes sobre os termos de empréstimos e investimentos».

Contrair dívidas com a China, portanto, deveria ser muito bem avaliado pela Guiana, considerando que este é um dos países mais pobres da América do Sul, embora exista em seu território importantes depósitos de bauxita, ouro e terras raras (17 elementos usados na fabricação de tecnologia de ponta) e vastas reservas de petróleo descobertas recentemente, o que poderia torná-lo, segundo a BBC, o país mais rico do hemisfério e potencialmente do mundo.

Vista aérea de Georgetown, capital da Guiana (Imagem de domínio público/Flickr)
Vista aérea de Georgetown, capital da Guiana (Imagem de domínio público/Flickr)

O financiamento do projeto está sendo estudado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), de modo que o governo da Guiana ainda aguarda a apresentação de um relatório, no entanto, segundo matéria da revista digital Diálogo Chinês, espera-se que a China forneça o capital necessário e, ao mesmo tempo, cuide das obras.

O projeto envolve, por um lado, a construção de uma estrada para conectar Lethem, uma cidade na fronteira próxima ao Brasil, com a cidade de Linden, localizada perto de Georgetown, capital do país; e, por outro, a construção de um porto de águas profundas no litoral norte capaz de receber embarcações de grande envergadura, conforme reportado pela Diálogo.

Brasil é o maior parceiro comercial da China na região, e a construção dessa ligação rodoviária permitirá chegar ao mar em muito menos tempo até chegar ao Canal do Panamá. O negócio para a China é que suas empresas poderão receber matérias-primas do Brasil muito mais rapidamente e com menor custo.

Trecho da atual estrada de terra que liga Georgetown a Lethem (Imagem de domínio público/Flickr)
Trecho da atual estrada de terra que liga Georgetown a Lethem (Imagem de domínio público/Flickr)

Este não seria o primeiro plano de infraestrutura executado pela China no território da Guiana, mas o mais importante desde que o país latino-americano se inscreveu na iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota” (OBOR), em julho de 2018.

Não apenas a Guiana concordou com o gigante asiático comandado pelo Partido Comunista Chinês (PCC). Sob o lema de «uma nova plataforma para uma cooperação mutuamente bem-sucedida», o regime comunista, convidou a América Latina e o Caribe para aderir à iniciativa, e atualmente existem 16 países na região que assinaram a adesão, incluindo Venezuela, Bolívia, Uruguai, Cuba e Equador.

Embora a iniciativa e seus investimentos multimilionários possam ser entendidos como benefícios econômicos e desenvolvimento para os países participantes, também é visto com muitas dúvidas e ceticismo por muitas nações e analistas, no sentido de que possa ser um mecanismo idealizado pelo regime chinês para que suas empresas, influências e ideologia avancem globalmente, e também especula-se que o país queira assumir as matérias-primas dos países que acumularem grandes dívidas com o PCC.

Caminhões atravessam o rio em uma barcaça em sua rota de Georgetown para Lethem (Imagem de domínio público/Flickr)
Caminhões atravessam o rio em uma barcaça em sua rota de Georgetown para Lethem (Imagem de domínio público/Flickr)

Para se ter uma ideia da quantidade de dinheiro envolvido, durante a segunda cúpula da iniciativa em 2018, a China prometeu destinar US$ 250 bilhões para projetos de infraestrutura somente na América Latina.

Yanina Galvez Salvador, acadêmica da Universidade Nacional do México, disse à Diálogo que «o objetivo final da China é alcançar um peso internacional significativo e expandir sua influência através da geração de dependência comercial e econômica de outros países».

Em um tom semelhante, o ex-embaixador do México na China, Jorge Guajardo, disse à BBC que “a China está procurando países que, mais do que qualquer outra coisa, não tenham acesso aos mercados financeiros internacionais. Então eles chegam e oferecem um financiamento que é caro, mas que está efetivamente ligado a infraestruturas construídas com engenharia chinesa, material chinês, mão de obra chinesa, que eles vendem como desenvolvimento para o país”, e resumindo ele acrescentou:“ Eles deixam a infraestrutura funcionando, mas o país é que paga.»

Em um artigo publicado em 7 de maio pelo Epoch Times, intitulado «A armadilha da dívida do ‘OBOR’: o preço de seguir a China«, alerta para os perigos de ficar em dívida com a China como resultado desse Megaprojeto e as consequências do refinanciamento da dívida.

Por exemplo, desde outubro de 2018, Malásia, Mianmar e vários outros países acusaram a China de levá-los a uma «armadilha da dívida» e reclamaram com os Estados Unidos e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Os Estados Unidos também criticaram abertamente o regime chinês e questionaram sua «expansão vermelha».

Porto de Hambantota atualmente alugado para a China pelo prazo de 99 anos, no Sri Lanka (Creative Commons)
Porto de Hambantota atualmente alugado para a China pelo prazo de 99 anos, no Sri Lanka (Creative Commons)

O artigo menciona o caso particular do Sri Lanka, que devido à sua incapacidade de pagar o que deve à China referente à construção do porto de Hambantota, teve que arrendar à China todo o porto por um período de 99 anos.

O incidente foi criticado e descrito como um caso típico de armadilha da dívida da OBOR.

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