Por que o PISA, por si só, é inútil

Para começar, ele confunde escolarização com educação

Por Mateus Vieira, Instituto Mises Brasil
17 de diciembre de 2019 2:00 PM Actualizado: 17 de diciembre de 2019 2:00 PM

Publicado no início de dezembro, o resultado do exame PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de 2018 e as posições (sempre baixas) ocupadas pelo Brasil no referido ranking tornaram-se o principal assunto da grande mídia.

Independentemente do viés ou da linha editorial de cada jornal, o comentário foi uníssono: «O Brasil precisa investir mais em educação!». «Precisamos melhorar o resultado, ou para sempre seremos um país subdesenvolvido».

Não se trata apenas de uma questão de ingenuidade (acreditar que o Estado possa prover educação genuína a algum indivíduo). A situação é bem pior: as afirmações revelam a cosmovisão positivista reinante no Ocidente moderno.

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Com efeito, talvez seja este o pior veneno jamais ministrado à nossa agonizante civilização: a ideia de que é possível se construir uma sociedade organizada, justa e próspera a partir de modelos centralizados de educação que reflitam as convicções de uma elite intelectual iluminada, incumbida do seu dever de «desselvagizar» o homem bruto, inculto e religioso.

A auto-importância que os intelectuais se atribuem

O escândalo causado pelo baixo desempenho dos alunos brasileiros no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) reflete o mesmo cenário exposto por Nassim Taleb, em seu best-seller «Antifrágil«, no capítulo chamado «Ensinando Pássaros a Voar». No texto, o autor ilustra a história de um grupo de intelectuais que agrupa um bando de pássaros em salas de aula e lhes ministra palestras sobre aerodinâmica e técnicas de voo. Em seguida, os pássaros são levados a campo e verifica-se que 100% da amostra conseguiu voar. Os resultados então são convertidos em artigos, seminários, livros e cursos de pós-graduação, atestando a efetividade do método acadêmico quanto à didática do voo de aves.

Ao suscitar risos no leitor, o autor então começa a descrever como processos semelhantes ocorrem nas salas de aula das mais renomadas escolas e universidades do mundo, apenas trocando pássaros por humanos. Ele rotula de «epifenômeno» a falsa associação de um evento a outro registrado simultaneamente. Mais especificamente, os acadêmicos acreditam que o bom desempenho dos pássaros se dá exclusivamente por causa das aulas ministradas, e não apesar delas.

De igual forma, podemos ser levados a crer que a chegada da noite faz surgir estrelas no céu em vez de entender que elas sempre estiveram ali, estando apenas antes ofuscadas pela luz solar.

O epifenômeno educacional é a constante do Ocidente moderno. De alguma forma, aparentemente todos foram levados a crer que o desenvolvimento de uma sociedade possui relação direta com os níveis de educação formal de seus membros. Taleb atribui esta miopia a um problema ao qual ele denominou «A história escrita pelos perdedores».

Segundo o autor, os indivíduos mais pujantes em uma sociedade (os mais inteligentes, produtivos, empreendedores, caridosos etc.) estão ocupados demais em sua tarefa de carregar o mundo nas costas, enquanto que aos intelectuais da academia é relegada a tarefa de escrever livros e registros que contarão a história (o que ocorrerá obviamente sob sua ótica, geralmente elitista e soberba).

Como realmente funciona no mundo real

No que tange ao desenvolvimento econômico, o autor passa então a discorrer sobre diversos eventos, tidos como pontos de inflexão na curva de riqueza da sociedade, desvinculando sua origem da teoria originalmente proclamada: a de que a ciência precede a tecnologia.

Para Taleb, o que ocorre é exatamente o contrário, a tecnologia precede a ciência. E a ciência se serve da tecnologia para seu avanço e sobrevivência.

É intuitivo pensar que a roda veio antes da matemática e da descoberta do pi, como também é intuitivo pensar que as armas, o fogo e o cozimento de alimentos vieram antes da mecânica, da química e da termodinâmica. Contudo, não é intuitivo pensar que os instrumentos que permitem a existência da vida moderna surgiram de forma independente da ciência acadêmica e organizada. É a partir daí que Taleb passa a contar a história de invenções, como a dos motores a jato, da máquina a vapor e da cibernética como movimentos aleatórios não-provocados, ou seja, executados por indivíduos independentes e com pouca ou nenhuma instrução formal, orientados apenas pelas necessidades de seus respectivos contextos cotidianos.

Atenção: não estou aqui dizendo que a pesquisa acadêmica é inútil e que os conhecimentos produzidos em departamentos hierarquizados, tão logo sejam levados por indivíduos produtivos para fora da academia, não podem ser aproveitados no processo de inovação tecnológica. O que realmente está sendo afirmado é que a pesquisa acadêmica e o nível geral de escolarização formal de uma sociedade não são, sob hipótese alguma, motores do desenvolvimento econômico, mas sim suas consequências.

Primeiro uma sociedade enriquece, e só depois passa a permitir que alguns indivíduos possam se dedicar a atividades contemplativas e «desligadas» do mercado produtivo. Esta é a ordem, e não o contrário.

Assim como a máquina a vapor e o motor a jato citados anteriormente, quase tudo o que move o mundo moderno foi primariamente inventado ou economicamente viabilizado à parte da academia. Do refino de petróleo de John Rockefeller à linha de montagem de Henry Ford, da descoberta dos semicondutores ao motor à combustão interna de Otto, do Windows, Mac OS e Linux ao iPhone, a necessidade é que dirige as soluções e a necessidade só pode ser enxergada sob a condição da exigência de mercado — ou seja, no mundo real, fora do ambiente controlado do laboratório.

Os americanos nunca lideraram (e até hoje não desempenham muito bem) os índices educacionais, assim como a China só passou a crescer nesses rankings após a abertura comercial dos anos 1970. O mesmo padrão pode ser visto no Japão, na Coreia do Sul e nos países nórdicos.

O crescimento nos rankings educacionais só aparece após o crescimento econômico. Isso é algo lógico: é totalmente intuitivo que, quanto mais ricas as famílias, menos será demandada a mão-de-obra das crianças, sendo possível que o jovem seja sustentado por mais anos de carreira escolar/universitária.

Contudo, é necessário enfatizar que, ainda que os níveis gerais de escolarização cresçam, o impacto de tais «avanços» sobre o desenvolvimento econômico de uma sociedade não será determinante, sendo na maior parte das vezes inócuo e, por significativas vezes, problemático. Haja vista o mal que as escolas de economia e «ciências sociais & humanas» têm trazido para o mundo moderno.

Tente apenas imaginar como seria a sua vida se não houvesse essa inflação de Ph.D’s nos bancos centrais, quebrando as economias de tempos em tempos. Pense também em todos os males causados pelos «experimentos sociais» promovidos por intelectuais de sociologia-filosofia-e-afins quando a estes é concedido o poder de ditar as chamadas «políticas públicas». Nestes casos, podemos dizer que a «academização» tem mais prejudicado que ajudado o nosso mundo.

Para concluir

Deveríamos medir o desenvolvimento de nossas crianças com base em suas aptidões para resolver problemas do cotidiano, em suas capacidades de buscar soluções por conta própria, em serem pessoas honestas que cumprem contratos, em seu respeito pelos demais entes da sociedade e em sua capacidade de resistir a tempos difíceis.

E não pelo desempenho em índices de escolarização — sim, a palavra certa é escolarização; educação é outra coisa.

O conteúdo desta matéria é de responsabilidade do autor e não representa necessariamente a opinião do Epoch Times

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