O Porto Digital, o mais relevante parque tecnológico urbano do Brasil, com 328 empresas e faturamento de R$ 1,9 bilhão por ano, tem mil vagas de emprego abertas desde julho, com salários iniciais que variam entre R$ 2.500 e R$ 3.000, mas não consegue preenchê-las por absoluta falta de qualificação dos candidatos.
Os profissionais com curso superior na área de tecnologia que concorreram aos postos apresentaram carências de formação para desempenhar as funções oferecidas.
A tentativa infrutífera de conseguir profissionais qualificados é considerada um alerta diante do atual momento do país, em que o governo corta bolsas de pesquisas nas universidades.
Mais de cinco mil pessoas enviaram seus currículos pela internet para trabalhar em uma das empresas do Porto Digital. Deste total, 2.000 mil foram descartados logo de início por não terem formação na área de tecnologia.
Como o desemprego segue alto, com mais de 11 milhões de trabalhadores em busca de uma chance, até gente com diploma em área inadequada, como Letras, se inscreveu.
Os outros três mil candidatos não puderam ser aproveitados por não se encaixarem nas exigências mínimas das empresas. Os perfis mais procurados são programadores em início de carreira e engenheiros de software.
Dados do último censo do ensino superior do MEC (Ministério da Educação) apontam que 2.600 alunos entram todos os anos nas universidades públicas e privadas de Pernambuco nos cursos de ciência da computação, engenharia da computação e sistemas de informação, os três principais da área de tecnologia. Deste total, 620 se formam anualmente.
No Nordeste, também conforme informações do MEC, entram 10.000 estudantes todos os anos nestes mesmos três principais cursos e 2.400 saem formados.
Ciência em alerta
O presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, explica que há um aumento de demanda significativa em termos de trabalho na área porque muitas empresas estão sendo contratadas justamente para fazer transformação digital em outras que não necessariamente são da área de tecnologia.
Ele destaca que o nível de exigência das empresas de tecnologia é bastante elevado. “Ou a gente resolve o problema educacional no Brasil ou a gente não vai se colocar no século 21 de maneira definitiva”, diz.
No início de junho, o governo Jair Bolsonaro (PSL) anunciou que iria cortar mais 2.724 bolsas de pós-graduação. Somadas com as outras 3.474 que já haviam sido bloqueadas em maio, o corte atinge neste ano 6,9% das bolsas de pesquisa financiadas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior.)
Com esse corte e outras reduções de custos, como replanejamento de bolsas no exterior, o bloqueio de recursos neste semestre atinge R$ 300 milhões na Capes. O bloqueio no MEC é de R$ 5,8 bilhões neste ano.
Pierre ressalta que, pelo que sente em contato com as empresas do Porto Digital, normalmente falta o programador qualificado de início de carreira por existir uma demanda crescente.
“Só uma empresa daqui, por exemplo, do Porto Digital, tem 2,5 mil funcionários e vai chegar a cinco mil no ano que vem. A maioria é de programadores em início de carreira que vamos precisar encontrar ou formar”, atesta.
Outro perfil em falta é o de engenheiro de software sênior. “O cara que faz produção em alto nível de gerenciamento de grandes equipes para projetos de inovação. Esse cara, na verdade, está faltando no mundo todo”, diz.
A realidade recifense, a cidade maior formadora de mão de obra da região, não difere do resto do país quando o assunto é falta de qualificação profissional.
Mesmo assim, Pernambuco tem recebido prospecção de muitas empresas por formar bastante gente em relação ao resto do Brasil. “Se pegarmos o quadro em São Paulo, ele é dramático de mão de obra. Simplesmente, não tem.”
O Porto Digital está fazendo um programa de conversão para transformar profissionais da área de exatas que estão desempregados, como engenheiros, matemáticos e físicos, em programadores.
Há também articulação com três universidades privadas para oferecer cursos de graduação de dois anos com uma grade pensada pelo conjunto das empresas de tecnologia. Em outubro, de maneira coletiva, um grupo de 10 empresas vai fazer uma nova chamada de empregos em várias cidades do Nordeste.
“Ou a gente faz um grande mutirão pela educação e pelo emprego ou a gente não vai apontar para o século 21. Não vai se colocar lá. O jogo da transformação digital está começando agora e ainda temos tempo para entrar nesse trem”, declara Pierre.
Com informações da Folhapress
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