Nova Iorque, 27 set (EFE)- O presidente do Equador, Lenin Moreno, afirmou em uma entrevista que o «socialismo do século XXI» nunca existiu e se mostrou satisfeito por protagonizar uma guinada política em relação ao antecessor, Rafael Correa, evitando assim que o país seguisse o mesmo caminho da Venezuela.
«Saímos dessa mentira. Esse socialismo jamais existiu. Pelo contrário, eram um grupo de delinquentes, de mafiosos que a única coisa que fizeram foi corromper e serem corrompidos», afirmou o chefe de Estado, que discursou esta semana na Assembleia Geral das Nações Unidas, em entrevista à Agência Efe.
Um dos focos do encontro da ONU foi justamente a crise na Venezuela, um cenário que, para Moreno, poderia ter sido reproduzido no país que preside, se as ideias do antecessor tivessem sido mantidas.
«O Equador soube sair sem grandes traumas e agora caminha no rumo certa», disse Moreno, que foi vice de Correa, que está sendo investigado no caso Odebrecht no país.
O atual presidente citou como exemplo de mudança no Equador a confiança dos organismos multilaterais, que ofereceram créditos de mais de US$ 10 bilhões (R$ 41,5 bilhões) para investimentos em desenvolvimento.
NEM PERDÃO, NEM ESQUECIMENTO PARA MADURO.
Um dos principais desafios atuais do país é administrar a inédita avalanche de migrantes venezuelanos. O Equador já recebeu quase meio milhão de pessoas em um cenário que Moreno classificou como «desesperador».
O presidente contou os que chegam ao país chegam como «mortos vivos», olhando para um horizonte sem nenhum tipo de rumo.
«Acho que esse senhor deve se afastar do poder e pagar pelos seus crimes. Que não haja perdão e nem esquecimento. Deixar de extorquir as pessoas, deixar de roubar o povo da Venezuela, deixar de maltratar, violentar e assassinar a tanta e tanta gente», garantiu Moreno, em referência ao presidente Nicolás Maduro.
O Equador é um dos mais de 50 governos que reconhecem como chefe de governo interino da Venezuela o presidente da Assembleia Nacional do país, Juan Guaidó.
Além da crise política, Moreno se mostrou preocupado com as implicações de receber um grande número de refugiados venezuelanos.
«Qual será o tamanho do desespero dessa gente que decidiu ir a países que, talvez, tenham as mesmas dificuldades?», indagou.
O presidente revelou que, até agora, o governo providenciou mais de meio milhão de atendimentos médicos, integrou quase 20 mil jovens e crianças em seu sistema educacional e, pouco a pouco, vai absorvendo os recém-chegados ao mercado de trabalho.
Para poder programar e elaborar um orçamento dos custos da atenção ao grupo de migrantes, o Equador dará início na semana que vem a um censo de venezuelanos.
«A situação não é fácil. Sem dúvida alguma, eles vieram para mudar as circunstâncias sociais, econômicas e, em partes, políticas do país. Mas a solidariedade que nós devemos dar é mais importante», ressaltou.
«VAMOS PERMITIR A PASSAGEM DE VENEZUELANOS EM TRÂNSITO».
Moreno garantiu que o Equador permitirá a entrada de venezuelanos em trânsito em alguns casos, como daqueles que possam comprovar a necessidade de ver suas esposas e filhos, aos que tenham em vista alguma alternativa de trabalho ou, ainda, àqueles que possuam algum visto emitido por países vizinhos.
Desde 26 de agosto, os venezuelanos necessitam um visto humanitário para entrar no Equador, o que fez com que centenas de migrantes ficassem retidos na fronteira com a Colômbia enquanto tentavam cruzar o país, em direção a outros países, como Peru ou Chile.
Os requisitos para permitir ou não a passagem dos migrantes provocaram atritos dentro do governo equatoriano, devido as diferenças de critério entre os ministérios de Relações Exteriores e do Interior.
Mas o presidente foi bastante claro sobre o assunto e garantiu que é preciso ainda ajudar que os venezuelanos não precisam percorrer centenas de quilômetros a pé.
«Sim, vamos permitir a passagem em trânsito», afirmou.
MULTILATERALISMO, SEMPRE.
No que se refere às relações exteriores, e apesar da sintonia do seu governo com os Estados Unidos nos últimos tempos, Lenin Moreno se declarou partidário do multilateralismo e do diálogo, em oposição aos preceitos nacionalistas do presidente americano, Donald Trump.
«Todos têm direito de se expressar com liberdade e eu tenho o dever de escutar. Essa racionalidade múltipla permite que sejam tomadas as melhores decisões e conclusões», disse.
Além disso, Moreno antecipou que espera que so Equador seja, até o fim deste ano ou início de 2020, membro pleno da Aliança do Pacífico, com todos os benefícios que isso representa, já que nesse momento país é um integrante não-pleno do bloco regional formado por Chile, Peru, Colômbia e México.
REELEIÇÃO DESCARTADA.
Dois anos antes das próximas eleições presidenciais no Equador, o atual presidente reiterou que mantém, por enquanto, a palavra firmada de não se apresentar novamente ao cargo.
Moreno avaliou que, ainda acredita que, quando o poder bate à porta não se deve evitá-lo, mas é necessário abandoná-lo o mais rápido possível.
Sem arriscar nomes, o governante afirmou que gostaria de ver no comando do país uma pessoa que continue com o programa de transparência, de honestidade e de serviço à coletividade que foi estimulado durante seu governo.
«Não tinha antes, não tenho agora e quero pensar que não terei depois (o desejo de outro mandato). Não gosto de antecipar o futuro, isso de me comportar como um oráculo não é do meu agrado. Mas, se você me perguntar neste momento se eu gostaria de ser candidato, eu digo não», afirmou.
«Nem o poder nem o dinheiro proporcionam felicidade, quando os seres humanos finalmente vão entender isso?», concluiu.
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