Várias organizações sociais foram às ruas da Argentina nesta quarta-feira (4) pedir ao presidente Mauricio Macri e ao Congresso a aprovação de uma lei para decretar situação de emergência alimentícia no país devido à delicada situação da economia.
Algumas das principais avenidas de Buenos Aires amanheceram lotadas, com milhares de pessoas que partiam de diferentes áreas da cidade rumo a dois principais pontos: o Ministério de Desenvolvimento Social e o Congresso. Na sede do Legislativo, deputados da oposição receberam representantes do movimento para coordenar a campanha para aprovar a lei.
«Há seis projetos de lei de emergência alimentícia. Queremos que eles sejam unificados em um só projeto, que depois seja discutido e aprovado no Congresso», afirmou à Agência Efe o candidato a deputado pela Frente de Todos, do peronista Alberto Fernández, Juan Marino.
Segundo ele, o principal empecilho para debater uma lei que permitiria redirecionar verbas de outras áreas do governo para o setor de alimentos é a falta de disposição do governo de Macri, que tentará a reeleição nas eleições de outubro contra Fernández, favorito a vencer o pleito depois do triunfo nas primárias realizadas no país.
O último relatório publicado pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos aponta que 32% da população argentina está vivendo abaixo da linha da pobreza, mas os números são relativos ao quarto trimestre de 2018. Como a crise econômica se agravou desde então, a situação pode ser ainda mais grave.
«Estamos reivindicando ao Juntos pela Mudança (coalizão de Macri) que possibilite a discussão da lei, que ela seja votada para ser aprovada. Se os governistas facilitarem as discussões, poderíamos fazer uma sessão especial na semana que vem. Ela seria imediatamente aprovada», afirmou Marino.
Com o mesmo objetivo, mas adotando estratégia distinta, outro numeroso grupo de pessoas fez uma manifestação em frente ao Ministério de Desenvolvimento Social, que fica na Avenida 9 de Julho, uma das principais de Buenos Aires, a menos de dois quilômetros do Congresso.
«Não vai haver sessão parlamentar, não votarão nenhuma lei. Acreditamos que isso é um erro. Respeitamos os companheiros que vão ao parlamento, mas inclusive pedimos que eles nos acompanhem quando terminarem sua mobilização», disse Eduardo Belliboni, um dos dirigentes nacionais do Polo Trabalhista, organização vinculada ao Partido Obrero.
O objetivo da entidade é conseguir uma reunião com a ministra de Saúde e Desenvolvimento Social, Carolina Stanley. No encontro, eles querem convencê-la a discutir com Macri a possibilidade de declarar a situação de emergência coletiva. A promessa do Polo Trabalhista é permanecer nas ruas até conseguir uma audiência com algum representante do governo.
«Se não houver resposta nós vamos ficar e dormir. Vamos ficar vários dias aqui», disse Belliboni.
A Argentina vive uma grave crise desde abril do ano passado, quando o peso argentino começou a se desvalorizar em relação ao dólar. A instabilidade cambial se refletiu em outros setores da economia, provocando um aumento da inflação, e se intensificou depois da derrota de Macri, visto como pró-mercado, nas primárias para as eleições presidenciais.
O Polo Trabalhista não descarta convocar uma greve geral de 36 horas para forçar Macri a decretar situação de emergência alimentícia no país. Mas, para isso, a entidade ainda precisa do apoio dos principais sindicatos argentinos.
«Estamos pedindo que as centrais sindicais convoquem uma greve. São elas as responsáveis pelos trabalhadores, por responder por seus interesses e por suas reivindicações. Do outro lado temos os capitalistas defendendo seus interesses, vendendo dólares e promovendo fuga de capitais», ressaltou o dirigente do Polo Trabalhista.
A Confederação-Geral do Trabalho, um dos principais sindicatos do país, já se uniu ao protesto e divulgou nota solicitando a «urgente declaração de emergência alimentícia e nutricional». Nas últimas semanas, outras importantes entidades da sociedade argentina também declararam apoio à medida, como a Igreja Católica.
Fontes do Ministério de Desenvolvimento Social afirmaram à Agência Efe que as manifestações de hoje são uma «extorsão» para exigir a implementação de políticas sociais. Além disso, o órgão descartou a hipótese de receber as lideranças dos protestos convocados hoje.
Para o governo Macri, a Lei de Emergência Pública, sancionada em dezembro de 2016, já atende ao desejo da oposição. Os governistas argumentam que o artigo segundo da lei traz uma defesa dos «direitos dos trabalhadores e trabalhadoras que atuam na economia popular, em todo o território nacional, visando garantir-lhes a alimentação adequada, moradia digna, educação, vestuário, cobertura médica, transporte, férias e proteção provisória».
Outro dos focos do protesto foi o Banco Central. Quatro pessoas se acorrentaram na entrada principal do edifício e pediram uma audiência com o presidente da instituição, Guido Sandleris. Além disso, eles exigiam a renúncia de Macri e de todo o governo.
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