Porto Velho (RO), 27 ago (EFE)- Na fazenda de Helio Lombardo, no coração da Amazônia, as chamas arrasaram com tudo. O fazendeiro, de 56 anos, vê ações deliberadas na origem dos fogos que devastam a floresta há dias: «Se eu estivesse armado, eles (os causadores dos incêndios) não sairiam vivos».
«A produção está em risco, mas eu não vou ficar aqui apagando fogo», contou o pecuarista, desolado, à Agência Efe.
Lombardo vive na zona rural de Porto Velho, uma das cidades mais afetadas pela intensa fumaça provocada pelos incêndios na floresta, e acredita que a origem das queimadas foi premeditada, pelo menos a que destruiu boa parte de sua fazenda, de 100 hectares.
«Acredito que o fogo foi criminoso, porque veio do outro lado da minha propriedade. Eles tocaram fogo lá da estrada em direção à parte de dentro», disse o pecuarista, que só conseguiu salvar as cabeças de gado porque decidiu retirar os animais um dia antes de o fogo chegar à fazenda.
«Faz dois dias que a fazenda está queimando sem parar. Se os bois estivessem aqui, não estariam mais, porque teriam morrido. Toda a água da propriedade secou», explicou.
Para evitar esse tipo de situação, o fazendeiro se diz a favor do uso de armas de fogo em propriedades rurais privadas, conforme foi estabelecido depois que o presidente Jair Bolsonaro flexibilizou a posse e o porte.
«Se eu estivesse armado, eles cairiam por terra. Não voltariam vivos daqui. Eu estou perdendo o meu latifúndio», frisou.
Para Lombardo, o uso de armas de fogo «está dentro da lei, é algo bíblico e é usado para destruir o inimigo». Nas palavras dele, «o inimigo é aquele que te causa prejuízos». Em sua fazenda, o gado se salvou, mas todas as árvores e áreas de plantação foram destruídas.
A propriedade de Lombardo está localizada a cerca de 150 quilômetros de Porto Velho, um dos epicentros dos incêndios na Amazônia. Para chegar até essa remota área, é necessário atravessar a Usina Hidrelétrica de Samuel, que tem 57 quilômetros de extensão.
A dificuldade de acesso complicou o trabalho de deslocamento até o local das equipes do Corpo de Bombeiros, do Exército e da Força Nacional de Segurança Pública. A imagem da Amazônia em chamas deu a volta ao mundo e estampou a primeira página dos principais jornais globais.
Além disso, os milhares de focos incêndio que devoram rapidamente a maior floresta tropical do mundo deixaram em evidência o crescente desmatamento no Brasil, o que desencadeou reprovações por parte de diversos países, principalmente europeus.
Uma das vozes mais críticas ao governo de Bolsonaro foi a do presidente da França, Emmanuel Macron, que repreendeu publicamente o mandatário brasileiro por suas políticas ambientais. Em resposta, Bolsonaro rebateu as duras críticas recebidas e entrou em rota de colisão com Macron.
Bolsonaro também chegou a acusar alguns países de «exagerar» sobre os incêndios, alegando que teriam interesses ocultos na Amazônia.
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