Fortaleza, 7 set (EFE)- «Não saio da cama há meses. Se saio, tenho que me arrastar e choro o tempo todo de dor». Assim define sua relação com a artrite reumatoide a aposentada Cristina Canes, diagnosticada há três anos com esta doença autoimune e cuja vida está limitada desde então ao perímetro de sua casa.
Após meia década convivendo com dores constantes e diferentes médicos, Canes finalmente recebeu, com três anos de atraso, o diagnóstico, embora sua jornada estivesse apenas começando.
«Eu passei de remédio a remédio e as dores não desapareceram. Troquei de médico para um que me receitou diferentes tratamentos, mas até agora não vi nenhuma melhora», contou à Agência Efe a aposentada, de 59 anos e que administrou por mais de 40 um salão de beleza na cidade de Canavieiras, na Bahia.
Canes esté entre os quase dois milhões de brasileiros que sofrem de artrite reumatoide, uma doença autoimune crônica que se manifesta quando o sistema imunológico produz anticorpos que atacam e inflamam as articulações.
A enfermidade atinge cerca de 1,5% da população global, o que se traduz em cerca de 23,7 milhões de pessoas no mundo todo, segundo dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), que encerrou neste sábado a 36ª edição do Congresso Brasileiro de Reumatologia, em Fortaleza.
Embora não tenha cura, a artrite reumatoide pode ser controlada e chegar à chamada remissão clínica, principalmente se for diagnosticada nos estágios iniciais, ainda que especialistas apontem que apenas cerca de 50% dos pacientes a alcançam.
Para o reumatologista austríaco Josef Smolen, uma das principais referências globais em doenças reumáticas, a demora para obter um diagnóstico preciso – e o consequente início tardio do tratamento – é um dos principais fatores que impedem que as taxas de remissão sejam mais altas.
Smolen argumenta também que «cada paciente é diferente» e «ainda não é possível prever a qual tratamento responderão de forma mais efetiva».
O austríaco é um dos autores de um recente estudo realizado com mais de 4.400 pacientes que apontou um novo fármaco como opção de tratamento da artrite reumatoide.
O Upadacitinibe, um remédio oral que inibe as enzimas da família Janus Kinase (JAK) – que pode desencadear o aumento das inflamações nas articulações-, se mostrou eficaz na inibição da progressão da doença e registrou duradouras taxas de remissão.
«É uma droga bastante eficaz e não foram encontradas evidências de que seu perfil de segurança seja diferente dos fármacos usados atualmente», explicou Smolen, ao acrescentar que «cada novo remédio descoberto aumenta em até 10% as possibilidades para que pacientes que não obtiveram respostas satisfatórias possam chegar à remissão».
O Upadacitinibe, produzido pela companhia farmacêutica AbbVie, foi aprovado na semana passada pela Food and Drug Administration (FDA), a agência do governo dos Estados Unidos que regula alimentos e remédios, e aguarda a análise da Anvisa para que seja liberado no Brasil.
Se aprovado, será mais uma opção ao lado dos outros 15 medicamentos já regulamentados e disponibilizados no país para o combate da artrite reumatoide.
O uso desse tipo de fármaco, que atua sobre agentes orgânicos específicos para frear doenças como artrite reumatoide, psoríase e lúpus, faz parte da «revolução» experimentada pela reumatologia mundial nos últimos 15 anos, segundo o diretor científico da SBR, Eduardo Paiva.
«Antes, o objetivo era deixar o paciente confortável. Hoje, o foco é a remissão e, com ela, proporcionar uma vida saudável, sem dores, sem limitações e capaz de reinserir o paciente em suas atividades diárias e profissionais», detalhou Paiva.
O especialista Max Victor Carioca de Freitas pondera que, para isso, é necessário investir em um sistema de saúde eficiente e capaz de oferecer um diagnóstico rápido, que permita o início imediato do tratamento.
«O ideal seria começar a terapia até seis meses após o diagnóstico. Algumas estratégias para isso são investir nas unidades de atenção básica que facilitem a identificação de doenças e aumentar o número de vagas de residência para reumatologistas», disse Freitas.
Foi justamente essa agilidade que permitiu Priscila Torres alcançar a remissão. A jornalista recebeu o diagnósico de artrite reumatoide aos 26 anos e hoje, 13 anos depois, garante levar uma vida compatível à de uma pessoa sem a doença: «Pratico atividade física, trabalho e faço tudo que qualquer pessoa faz».
Porém, Torres, que precisou abandonar a carreira de enfermeira devido ao avanço da doença, relembra que «existe uma jornada de superação e aceitação ao longo do caminho».
Hoje, a jornalista coordena diversos grupos de apoio a pacientes e trabalha ao lado de instituições públicas e privadas para levar informação e promover o bem-estar de portadores de doenças reumáticas.
«Existem muitas barreiras e muito preconceito. Mas somos muito mais do que o nosso diagnóstico», enfatizou.
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